domingo, 7 de dezembro de 2008

E tudo começou assim...

Memorial...O nome já diz: o que vem da memória, do pensamento, das experiências vividas, do coração, da alma...
Minha mãe sempre desejou que suas três filhas fossem professoras. Na época, dizia-se que o professor era um dos cargos públicos que tinha um ótimo salário, estabilidade, respeitabilidade e até certa imponência e status.Ou seja, reunia todas as características que ela desejava às suas filhas. Então, eu, a mais velha, fui a primeira à ser encaminhada rumo à seu sonho.Lembro-me que naquela época, o primeiro ano do ensino médio era como se fosse um estágio, onde o aluno teria esse período para decidir o curso profissionalizante que seguiria à partir do ano seguinte. Foi então que, levada por minha progenitora à Escola Normal de Ceilândia , fiz a temida prova de seleção. Pense na felicidade de todos quando souberam que eu iria ingressar no curso de magistério! Também parou por aí. Nenhuma das outras quis seguir meus passos, para sua tristeza e desapontamento. Eu, entre a indecisão e o sonho dela, optei por ouvi-la e não me arrependo por ter feito essa escolha.
Foram dois anos de trabalhos intensos. Concluí o curso em dezembro de 1985. Em fevereiro de 1986, prestei concurso para a Fundação Educacional do Distrito Federal. Passei. Em junho deste mesmo ano, assumia turma de 3ª série no Centro de Ensino 10 de Ceilândia. Era uma turma difícil, composta por alunos repetentes e que moravam numa comunidade que tinha como característica principal o alto índice de criminalidades. A regente havia saído para assumir a coordenação pedagógica. Em agosto, minha carga foi ampliada para 40 horas semanais. Fui lotada então no Centro de Ensino Especial 01 de Taguatinga. Para uma professora recém contratada, minha jornada era bastante puxada! Logo de cara, fui encaminhada à uma turminha formada por crianças com diferentes necessidades especiais, chamada de DMT – Deficientes Mentais Treináveis menores de 12 anos: Síndrome de Down, Autismo, deficiência física (duas cadeirantes) e mental e outros. Eram nove ao todo. Foi uma experiência inesquecível. No CEE 01 fiquei por três anos. Nesse período, a coordenação acontecia uma vez por semana, ocasião em que a direção também tratava de assuntos administrativos da escola. O tempo que sobrava para planejamento individual e troca de experiências era quase que inexistente. Hoje, contamos com a jornada ampliada que, para mim, foi uma das maiores conquistas da nossa categoria nesse vinte e dois anos de magistério.
Era freqüentadora assídua das assembléias promovidas pelo Sindicato, pois muitas de nossas conquistas sempre foram adquiridas através da luta e determinação dessa categoria tão merecedora de reconhecimento e respeito.Lembro-me que as reuniões ficavam lotadas e os discursos eram inflamados e emocionantes. Via-se a credibilidade e compromisso do nosso sindicato com as reivindicações e necessidades de nossa categoria, que sempre foram muitas. Sentíamos fortalecidos e motivados a participar de paralisações e greves que duravam longos períodos. Não desistíamos com facilidade. Hoje, com o enfraquecimento do nosso sindicato, isso já não acontece.
Escrever esse memorial está fazendo-me recordar de passagens da minha vida que estavam adormecidas no fundo da memória. Mas como nosso espaço e tema são limitados, vou continuar sendo o mais singular possível!
Antes que me falte espaço, vou antecipar os relatos da experiência que considero mais significativa no Ensino Médio, referentes à coordenação pedagógica, pedagogia de projetos e trabalho interdisciplinar. Foi em fevereiro de 2002, após dois anos nos cargos de Vice-diretora e Diretora da Escola Classe Ponte Alta do Norte – Gama, zona rural, que dou início à um dos meus maiores desejos: atuar como regente no Curso de Formação para professores da Educação infantil e Ensino Fundamental da Escola Normal de Taguatinga.Essa vontade de fazer parte da formação acadêmica e profissionalizante desses jovens se deu desde a conclusão do meu curso de graduação: Pedagogia , que me habilitou a atuar nas áreas de Didática e Metodologias da Aprendizagem.
Sentia saudades da época que fiz meu curso no ensino médio, onde aprendi a conviver com as diferenças e adversidades sócio-político-culturais, a conhecer meus limites e estabelecer minhas potencialidades, gerir conhecimentos que seriam, futuramente, partilhados e vivenciados com crianças da Educação Infantil e Ensino Fundamental da rede pública de ensino. Depois de alguns anos fora de regência, pude experimentar o privilégio de conviver em um ambiente com profissionais altamente qualificados e comprometidos em promover, junto àqueles jovens e sonhadores estudantes, uma educação de qualidade , onde todos os ônus e bônus dessa nova profissão eram transmitidos de forma à estabelecer o desenvolvimento global e consciente do caminho à ser trilhado.
A Escola Normal tinha como diretora a professora Francisca Vânia, hoje diretora do Ensino Médio da Secretaria de Educação e a vice era a professora Suely Pessoa, extremamente dedicada, estudiosa e elo importante entre a direção e o processo qualitativo da coordenação pedagógica do curso. Como coordenadora , a professora Marluce promovia , com muita seriedade e responsabilidade, o que se chamava de Núcleo. O professor regente tinha os dias de coordenação individual, o dia da Coletiva, onde eram tratados assuntos administrativos: informes, avisos, discussão sobre calendário escolar, estabelecimento de datas para desenvolvimento dos projetos coletivos, etc.. O Núcleo consistia no momento em que os professores das várias áreas da aprendizagem se reuniam para o estudo de textos e novas propostas pedagógicas, utilização de técnicas e dinâmicas de enriquecimento, e principalmente, a troca de experiências , angústias e expectativas inerentes ao cotidiano escolar e que eram compartilhadas por todos. Assim, o corpo docente, com a direção, pois essa se fazia presente em todos os nossos encontros, ficava à par de tudo que estava acontecendo no âmbito do estabelecimento de ensino em relação às turmas em suas peculiaridades e no geral. O tratamento individualizado ao aluno ocorria nos Conselhos de Classe ou sempre que se fazia necessário, pois passávamos quase todo o dia em contato com nossos alunos. Só quem já trabalhou com esse curso, sabe exatamente o que digo. O educador, ao atender essa clientela específica, tanto aprende quanto ensina. É fabuloso! Por isso, lamentamos muito quando teve fim o curso de magistério no ensino médio, porque esse foi único. A pessoa que se profissionalizou por ele, desenvolveu habilidades e competências que nenhum outro é capaz de formar em indivíduo algum.
Quando falamos na formação de profissionais que lidariam com crianças na faixa etária de 04 à 12 anos, tínhamos ciência de que nosso compromisso com o trabalho de pesquisa, estudo contínuo , atualização, conhecimento dos currículos do Ensino Médio, Educação Infantil, Ensino Fundamental e PCNs, era uma realidade. O Núcleo nos proporcionava a oportunidade de , junto à colegas de outras áreas, o desenvolvimento de projetos onde a interdisciplinaridade se fazia presente constantemente.Estávamos sempre em sintonia uns com os outros, avaliando e reestruturando nossa prática sempre que havia necessidade.
Para finalizar, quero dar um exemplo dessa prática significativa. Eu lecionava em uma das turmas com Metodologia de História e Geografia (MHG) e , junto às professoras de Tecnologia e estágio, desenvolvemos um projeto onde os alunos planejavam as aulas que seriam ministradas no ensino fundamental e, na aula de tecnologia, montavam o material didático que seria utilizado para enriquecer sua aula na prática. Pena que acabou meu espaço!

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